Motorista faz renda extra vendendo semijoias nas corridas
- Munrá Semijoias
- 22 Fev 24
Com a alta no valor do combustível, Marcel Giordo começou a comercializar colares, brincos e pulseiras dentro do veículo de app.
Morador da Vila Nova York, no distrito do Aricanduva, zona leste de São Paulo, o autônomo Marcel Giordo, 33, é motorista de aplicativo há 6 anos. Desde o início da pandemia, ele tem preferido aceitar apenas corridas pela região leste ou, no máximo, até o centro da cidade. O motivo é a receptividade com outra forma de renda: a venda de semijoias durante as viagens.
Com o aumento do preço da gasolina nos últimos meses, Giordo teve que pensar em uma alternativa de renda extra, já que as corridas por app não estavam mais compensando financeiramente. “Reclamar não ia adiantar, então tive a ideia das semijoias, porque mulher gosta de estar inovando, vendo o que está na moda”, conta.
A princípio, ele tentou vender trufas dentro do carro, mas não deu muito certo, já que alguns clientes engordaram na pandemia e passaram a evitar doces. Foi aí que o motorista recorreu às semijoias. “Todo mundo tem R$ 10 na bolsa e se interessa por alguma das peças, seja colar, brinco, pulseira ou chaveiro”, diz.
A preferência pela zona leste veio por conta do próprio público. “As pessoas com maior poder aquisitivo gostam de outros materiais e eu não vendo porque são mais caros. Aqui na região, as pessoas gostam mais da minha mercadoria”, explica. Os valores variam entre R$ 8 e R$ 25, e ele consegue fazer, em média, uma venda por corrida.
Combustível lá em cima
Segundo a ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustível), o preço da gasolina subiu 46% em 2021. Anteriormente, o combustível nos postos variava em torno de R$ 4,60. Em dezembro do ano passado, o valor médio foi para R$ 6,67, chegando a R$ 7,89 em cidades da região sudeste do país.
As perspectivas de mudança de quem trabalha como motorista não são muito boas. Em janeiro deste ano, o valor do litro da gasolina chegou a custar R$ 8.
O alto custo para trabalhar nos aplicativos tem acarretado no cancelamento de viagens curtas, que não são vistas pelos profissionais como vantajosas. Mas, para Marcel, essas corridas acabam compensando, pois aumentam o número de passageiros e, consequentemente, o número de vendas das semijoias durante o trajeto.
“Para mim, é bacana porque quanto mais viagens, mais vendas. Se não fosse isso, já teria largado os aplicativos. O aumento da gasolina atrapalhou muito quem trabalha como motorista, têm corridas que não valem a pena”, diz.
“Hoje, para ganhar R$ 100, é preciso rodar cerca de dez horas na rua. Sem contar que o carro quebra, dá manutenção, você perde dinheiro e vira prejuízo”, complementa o autônomo.
É a partir dessa própria realidade que Giordo começa a interagir com os clientes. Ele pergunta sobre a dificuldade dos passageiros em conseguir corridas e como também está complicado para os motoristas. Depois, conta que a solução foi começar a vender as semijoias e pergunta se a pessoa quer dar uma olhada nas mercadorias.
Empreendendo durante as corridas
A solução encontrada na venda das semijoias não é uma alternativa passageira, por isso Marcel Giordo pensa no trabalho como um modelo de negócio no futuro. “A ideia é virar uma empresa com vários motoristas de aplicativos vendendo diferentes produtos no carro”, conta.
No passado, alguns aplicativos proibiram as vendas durante as corridas. Mas, hoje, essa restrição já não aparece mais nos regulamentos. Além disso, não há vínculo empregatício entre as empresas e os profissionais, o que permite que ideias como esta sejam implementadas.
“O principal passo é recrutar motoristas de aplicativos para vender seus produtos no carro. Quero fazer isso para ganhar dinheiro, mas o objetivo também é ajudar os motoristas”, conta Giordo.
O empreendedor, que já implementou as vendas na própria rotina de trabalho, agora tenta colocar a proposta em prática. Para isso, tentou fazer parceria com os aplicativos de mobilidade urbana e procura investidores para o negócio, mas por enquanto não teve retorno.
Enquanto isso, ele segue com as vendas de semijoias no dia a dia e com a esperança de que haja uma mobilização governamental para melhorar o trabalho dos motoristas e diminuir o custo do combustível.
“Esse é um problema grande na nossa área profissional e dependemos do governo também. Se não tiver o serviço, é ruim para a cidade, então eles têm que ter um plano para abaixar o valor do combustível para taxistas e outros motoristas de aplicativos”, finaliza.
Fonte: Terra
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